Bibliologia - o tema central da Bíblia
- Roberto Rohregger
- Nov 25, 2022
- 7 min read
Updated: Nov 27, 2022
Ao estudarmos as Sagradas Escrituras, logo percebemos que não se trata de um conjunto de livros esparsos juntados aleatoriamente, ou simplesmente de um livro que conta a história de um povo. Apesar de o pano de fundo das Escrituras apresentar a história do povo judeu, não é este o tema da Bíblia.
Percebemos que há um fio condutor em todo o Livro, cujo objetivo central é a redenção ou reconciliação da humanidade com Deus, por meio de Cristo. Os estudiosos afirmam que a Bíblia apresenta um tema único de Gênesis a Apocalipse. Uns dizem que a mensagem central é a aliança – o pacto que Deus fez com Israel e mais tarde com toda a humanidade, através de Jesus. Outros afirmam ser o plano de salvação – a revelação sucessiva e progressiva de Deus aos homens para que tosos pudessem chegar ao conhecimento da verdade e ser salvos (1 Tm 2.4). Há também quem diga eu o tema das Escritura seja promessa e cumprimento. A promessa de Deus era a de que o Messias viria da família de Davi (2 Sm 7.12-16) e faria uma nova aliança (Jr 31.31). O cumprimento desta se deu em Jesus Cristo (Lc. 1.31-33) que estabeleceu durante a última ceia (Lc 22.s0). (Schwarz, 2002, p. 26 O resumo central é a redenção do ser humano, o plano da salvação em Cristo, conforme Ele mesmo declara em: "Foi isso que eu lhes falei enquanto ainda estava com vocês: Era necessário que se cumprisse tudo o que a meu respeito estava escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos" (Lucas 3 24:44) e: “Vocês estudam cuidadosamente as Escrituras, porque pensam que nelas vocês têm a vida eterna. E são as Escrituras que testemunham a meu respeito” (João 5:39). Ao lermos Atos 10.43, “Todos os profetas dão testemunho dele, de que todo aquele que nele crê recebe o perdão dos pecados mediante o seu nome", isso fica ainda mais claro.

Desta forma, compreendemos que a redenção é o tema central da Bíblia e Jesus é seu personagem central. De uma forma didática, pode-se entender que na Bíblia teríamos a preparação para a vinda de Cristo no Antigo Testamento; nos Evangelhos encontramos a sua presença manifesta; nas epístolas, a explicação e detalhamento teológico de sua vinda; e, por fim, no livro de Apocalipse, a consumação dos tempos e o comprimento total da promessa.
FATOS E PARTICULARIDADES DA BÍBLIA
As Sagradas Escrituras originalmente eram formadas por um texto corrido sem divisões, versículos ou capítulos. Esta separação do texto ocorreu no início da Idade Média (em torno de 1250), pelo cardeal Hugo de Saint Cher, abade dominicano e estudioso das Escrituras. Posteriormente, o impressor Robert Stevens, em 1551, realizou uma nova estruturação do texto do Novo Testamento. Já o Antigo Testamento teve a elaboração de sua estrutura realizada pelo Rabi Nathan, no ano de 1445. A primeira Bíblia a ser publicada inteiramente dividida em versículos foi a Bíblia de Genebra, em 1560. Encontramos vários estilos literários nas Escrituras, gêneros narrativos, históricos e, inclusive, poesia:
Aproximadamente um terço do Antigo Testamento está em forma de poesia, incluindo todos os Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Lamentações e o Cântico dos Cânticos. Alem disso há poemas especialmente na forma de canções, espalhados por todos os livros narrativos e boa parte dos profetas, e, exceto o começo e o fim do Livro de Jó, todo o resto está em forma de poesia. A poesia hebraica difere um pouco da poesia moderna. Ela não faz uso de rimas, mas parece possuir uma forma rítmica definida, apesar de os estudiosos não saberem exatamente como ela funciona. Os versos na poesia hebraica são compostos de duas ou, às vezes, três pequenas unidades. Frequentemente essas pequenas unidades são repartidas em duas com uma pausa no meio, duas pequenas unidades compõem uma linha e duas linhas compõe um verso. (Miller; Huber, 2006, p. 217)
A Bíblia é composta de vários livros, diversos autores e variados estilos literários, e nos apresenta um completo roteiro pela literatura, cultura e geografia da região da Palestina.
JESUS E SEU CONCEITO DAS ESCRITURAS
Jesus tinha plena compreensão de que as Escrituras eram a Palavra de Deus e que estas testificavam sobre Ele. Leia a seguir algumas passagens que apontam como Jesus compreendia e usava as Escrituras. Jesus leu-a: Ele foi a Nazaré, onde havia sido criado, e no dia de sábado entrou na sinagoga, como era seu costume. E levantou-se para ler. Foi-lhe entregue o livro do profeta Isaías. Abriu-o e encontrou o lugar onde está escrito: "O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para pregar boas novas aos pobres. Ele me enviou para proclamar liberdade aos presos e recuperação da vista aos cegos, para libertar os oprimidos e proclamar o ano da graça do Senhor". Então ele fechou o livro, devolveu-o ao assistente e assentou-se. Na sinagoga todos tinham os olhos fitos nele; (Lucas 4.16-20) Jesus ensinou-a: E começando por Moisés e todos os profetas, explicou-lhes o que constava a respeito dele em todas as Escrituras. (Lucas 24:27) Chamou-a de “Palavra de Deus”: Assim vocês anulam a palavra de Deus, por meio da tradição que vocês mesmos transmitiram. E fazem muitas coisas como essa. (Marcos 7:13) Cumpriu-a: E disse-lhes: "Foi isso que eu lhes falei enquanto ainda estava com vocês: Era necessário que se cumprisse tudo o que a meu respeito estava escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos". (Lucas 24:44 – Bíblia NVI) Jesus também afirmou que as Escrituras são a verdade, “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade” (João 17:17). Ele viveu e procedeu de conformidade com ela: Jesus chamou à parte os Doze e lhes disse: "Estamos subindo para Jerusalém, e tudo o que está escrito pelos profetas acerca do Filho do homem se cumprirá”. (Lucas 18:31) Declarou que o escritor Davi falou pelo Espírito Santo: Ensinando no templo, Jesus perguntou: "Como os mestres da lei dizem que o Cristo é filho de Davi? O próprio Davi, falando pelo Espírito Santo, disse: ‘O Senhor disse ao meu Senhor: Senta-te à minha direita até que eu ponha os teus inimigos debaixo de teus pés’”. (Marcos 12:35,36) Venceu o diabo no deserto com a Palavra de Deus: E lhe disse: "Tudo isto lhe darei, se você se prostrar e me adorar". Jesus lhe disse: "Retire-se, Satanás! Pois está escrito: ‘Adore o Senhor, o seu Deus e só a ele preste culto’". (Mateus 4:9,10)
INSPIRAÇÃO DAS ESCRITURAS
Sua autoria divina é vista no texto clássico sobre a inspiração em 2 Timóteo 3.16. Paulo declara que: “Toda Escritura divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para corrigir, para instruir em justiça”. Compreende-se pelo termo inspiração a ação sobrenatural do Espírito Santo sobre os autores das Escrituras, que possibilitou que seus escritos fossem o registro preciso da Palavra de Deus. Cabe ressaltar: Na única vez em que o Novo Testamento usa a palavra inspiração, ela se aplica aos escritos, e não aos escritores. A Bíblia é que é inspirada e não seus autores humanos. O adequado, então, é dizer que: o produto é inspirado, os produtores não. Os autores indubitavelmente escreveram e falaram sobre muitas coisas, por exemplo, quando se referiram a assuntos mundanos, pertinentes à vida, os quais não foram divinamente inspirados. Todavia, visto que o Espirito Santo, conforme ensina Pedro, tomou posse dos homens que produziram os escritos inspirados, podemos, por extensão, referir-nos à inspiração em sentido mais amplo. Tal sentido mais amplo inclui o processo total por que alguns homens movidos pelo Espírito Santo, enunciaram e escreveram palavras emanadas da boca do Senhor; e, por isso mesmo, palavras dotadas da autoridade divina. (Geisler, Nix, 1997, p. 10) Devemos manter clara a distinção entre revelação e inspiração. Por revelação compreende-se o ato de Deus de comunicar ou revelar diretamente a verdade que era desconhecida ao ser humano – verdade esta que não poderia ser conhecida de outra maneira senão diretamente. Schwarz explica que: Alguém já disse que religião é a tentativa da humanidade de encontrar Deus e que o cristianismo é o plano do Criador para alcançar a humanidade. Ele promove isso por da revelação, tanto geral como particular. A primeira refere-se ao testemunho dos elementos da criação, que provam, por si mesmos, não terem surgido por acaso, nem espontaneamente. Mostram a humanidade que existe um criador, que chamamos de Deus. A revelação particular diz respeito às palavras e aos feitos divinos como, por exemplo, quando o Senhor revelou seu nome aou ao chamar Abraão para se o “pai” do seu povo, e também quando libertou os israelitas da escravidão no Egito. (...) A Bíblia é testemunho das revelações de Deus aos patriarcas e profetas de Israel e aos apóstolos e discípulos de Jesus. (2002, p. 31) Podemos exemplificar algumas formas de revelação apresentadas nas Escrituras: o momento em que José interpreta os sonhos de Faraó (Gênesis 40.18;41.15-16,37-39) e a declaração de Daniel ao rei Nabucodonosor com 6 relação ao sonho que este havia esquecido, procedendo na sequência a sua interpretação (Daniel 2.2-7,19,28-30). Desta forma, conforme Geisler e Nix, a Bíblia ensina que a inspiração é: Verbal: independentemente de outras afirmações que possam ser formuladas a respeito da Bíblia, fica bem claro que esse livro reivindica para si mesmo esta qualidade de inspiração verbal.(...) A inspiração é plena: a Bíblia reivindica a inspiração divina de tosa as suas partes. (...) A inspiração atribui autoridade: fica, pois, saliente o fato de que a inspiração concede autoridade indiscutível ao texto ou documento escrito. (1997, p. 20) Pudemos desta forma compreender o que faz a Bíblia um livro completamente diferente dos demais, e de onde vem sua autoridade.
TEORIAS FALSAS DA INSPIRAÇÃO DA BÍBLIA
Em decorrência da importância do conceito de inspiração para a compreensão correta das Escrituras, precisamos evitar qualquer falso entendimento com relação a ele, por isso, leia a seguir algumas das falsas teorias do conceito de inspiração da Bíblia: Teoria da inspiração natural humana – a Bíblia foi escrita por homens de gênio e força intelectual como Sócrates, Platão e outros. Conforme podemos constatar nas passagens de 2 Samuel 23.2 com Atos 1.16; Jeremias 1.9 com Esdras 1.1; Ezequiel 3.16-17; Atos 28.25, a reinvindicação dos escritures bíblicos era de que Deus falava por meio deles. Segundo Gilberto, outras teorias equívocas são:
Teoria da inspiração divina comum – a inspiração dos escritores da Bíblia é a mesma que hoje nos vem quando oramos, pregamos, cantamos, ensinamos; Teoria da inspiração parcial – algumas partes da Bíblia são inspiradas, outras não; que a Bíblia não é a Palavra de Deus, mas apenas contém a Palavra de Deus. Teoria da inspiração de ideias – ensina que Deus inspirou as ideias da Bíblia, mas não as suas palavras. Estas ficaram a cargo dos escritores. Esta teoria falha, pois a expressão do pensamento é através da palavra, não dá para separar a palavra da ideia; (1986, p. 33-34)
Conceito correto: inspiração plenária Ainda segundo Gilberto, a inspiração plenária é a teoria teologicamente mais conservadora e correta quando se discute o conceito de inspiração: ensina que todas as palavras da Bíblia são inspiradas nos seus autógrafos originais; que os escritores não funcionaram como máquinas inconscientes, mas houve uma cooperação vital entre eles e o Espírito de Deus que os capacitava. (1986, p. 34) Compreendemos desta forma a importância que o conceito correto de inspiração tem para o estudo das Sagradas Escrituras como um livro, e que não tem origem nas elucubrações humanas, mas de inspiração divina.

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